terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Algemas da vida


Nada mais justo que começar o dia com um poema lindo e reflexivo de nosso grande escritor modernista, Carlos Drummond de Andrade:

Conferência Internacional do Medo

Provisioramente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Aqui, o poeta antecipa toda a situação de caos e desordem social e sentimental que paira sobre o mundo. Nada, além do medo, se sobrepõe. O amor cedeu seu lugar para as aflições do dia a dia, para a angústia proveniente desse intitulado 'medo' e que ronda em todos os lugares e sobre todos. O medo, indubitavelmente, é o causador de muitos fracassos. Fracassos os quais surgem do "não fazer", do "não tentar" e da força que esse "monstro" ganha nas páginas diárias da vida.

É interessante o modo como a vida caminha, lado a lado com o medo, cheia de fragilidade e inerte a um cosmo de tudo/nada.Dessa forma, a escolha para esse post é apenas um reflexo daquilo que, hoje e sempre, eu e muitos outros seres sentiremos diante às escolhas e ao curso que nossos rios seguirão na construção do que somos e seremos.

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