domingo, 4 de abril de 2010

O Pequeno Príncipe

_Não – disse o principezinho. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
_É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. – Significa “criar laços”…
_Criar laços?
_Exatamente – disse a raposa. – Tu não és pra mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
……
_Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourador. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
_Por favor… cativa-me! – disse ela.
_Eu até gostaria – disse o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
_A gente só conhece bem as coisas que cativou – Disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
_Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
_É preciso ser paciente – respondeu a raposa. – Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto…
….
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
_Ah! Eu vou chorar.
_A culpa é tua – disse o principezinho. – Eu não queria te fazer mal,; mas tu quiseste que eu te cativasse…
_Quis – disse a raposa.
_Mas tu vais chorar! – disse ele.
_Vou – disse a raposa.
_Então, não terás ganho nada!
_Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.

Antoine de Saint - Exupéry

6 comentários:

  1. "Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…"

    Creio que poucos livros marcaram tanto tantas pessoas quanto "O Pequeno Príncipe", e neste trecho, aparentemente piegas e pueril, há mais filosofia que em muitos compêndios sobre as relações humanas.

    Ótima semana, Renata.
    Beijos

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  2. Eu devo ter um problema, pois sou uma das únicas duas pessoas que conheço que não gostaram deste livro...

    Beijo

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  3. Tem razão, Renata. Um grande livro e uma leitura muito interessante, há décadas.

    Beijo!

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  4. Olá Renata! São vários os ensinamentos que os textos de Antoine de Saint Exupéry nos legaram, entre eles a importância da amizade verdadeira.
    Em tempos de internet, quando a palavra amigo virou ícone semântico, é muito bom reler o autor do "Pequeno Príncipe" e refletir sobre conceitos como o que segue:
    "A gente só conhece bem as coisas que cativou – Disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!"
    Uma bela e iluminada semana para você! Abraço forte.

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  5. Um texto muito completo, e que penso ter o poder de ser um originador de múltiplas interpretações, consoante as vivências da pessoa que lê.

    A Amizade é uma dádiva de valor inestimável, e ser amigo é um talento que não está ao alcance de qualquer coração.

    E porque só o agora importa, que saibamos aproveitar intensamente cada segundo que partilhamos com os nossos laços.

    É isso que fará toda a diferença no nosso espírito na hora de ir embora ;)

    Beijo.

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  6. Eu simplesmente amo esse trecho do livro!
    É lindo... Eu adoro o PP rs
    Beijocas, menina =*

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